Notícia

Os caçadores de imagens

Os que não estão na rede talvez não percebam, mas os interligados (se não a maioria, uma boa parte) certamente têm visto a manifestação técnico/artística que cada vez mais vem tomando corpo aqui na província da serra: a habilidade subjetiva de fotografar pessoas e paisagens.

Em carona na visibilidade das redes sociais, os praticantes dessa arte postam diariamente seus registros no Facebook e em outras páginas da web, retratando a cidade e suas cenas cotidianas na forma de pequenos recortes digitais. Paisagem urbana e rural, riachos e árvores solitárias, cordilheiras, nuvens e pôr-do-sol são mostrados de uma forma diferente das quais, de tão acostumados, já perdemos o jeito de reparar. E esse o grande lance dos novos fotógrafos: nos devolver exatamente aquilo que nunca nos foi tirado.

Retrato é escultura de lembranças – diriam seus adeptos.

Desse grupo que anda fazendo imagens tão conceituais de nossa terra, destacam-se alguns pelo estilo e técnica característicos. André Leal (diga-se: sua exposição em 2011 talvez tenha determinado tal tendência em Espera Feliz) fotografa tanto quanto se redigisse um outdoor como se escrevesse um poema. Andrea Rosemberg, em quadrantes casuais, disfarça poses naturalizando rostos de cenas artificiais. Fabiano Souza, biólogo e observador de pássaros, faz ciência em cores registrando a fauna e flora da região do Caparaó. Cada um, a seu modo e clique, dá forma e contorno à geografia íntima do leste.

Há outros fotógrafos – não menos sensíveis – que também registram pontos de vista inusitados da rotina aqui nas montanhas, como Abner Almeida, Rodrigo Carrara, Jr. Scoralich, Ricardo Canibal, Leonardo Tavares e Bruno Ornelas. A cidade e suas ruas, seus becos e seus jardins, seus bichos e sua gente tomam novos significados na perspectiva desses caçadores de imagens com olhos de zoom e flashes.

Todos eles, nossos célebres e anônimos fotógrafos, talvez inspirados (ou não) pelos maiorais do assunto – Arcimboldo, Da Vinci, Duchamp, Andy Warhol, Shinoyama, Jr. Duran, Vick Muniz, Ayrton Retratista etc. – muito mais do que capturar beleza e momentos felizes, imprimem na nossa história a própria história do nosso tempo. Porque através das antigas fotografias é que entendemos o passado da cidade. Haverá uma hora em que estas imagens do presente – postadas diariamente no Facebook – serão tão velhas quanto hoje nos são aquelas em preto-e-branco.

Por isso, mesmo que eles não saibam, no futuro suas fotografias provavelmente serão o único sinal de que um dia estivemos aqui, em Espera Feliz, como pintura rupestre em alta definição.

Por Farley Rocha

*Farley Rocha, nascido em 1982, é mineiro da cidade de Espera Feliz. Professor de Língua Portuguesa e Literatura, já publicou dois livros de poesia, Mariposas ao Redor (2011) e Livre Livro Leve (2015). É colunista do Portal Espera Feliz desde 2010, onde publica crônicas sobre sua cidade e a região da Serra do Caparaó.