Notícia

Fábrica de aviões

Tempos atrás havia por aqui um menino comum, desses que um dia crescem e se tornam adultos. De todas as brincadeiras, sua preferida era a de se deitar no chão do quintal de casa, entre xaxins de samambaias e pés de couve, para ficar olhando o céu quando passava um avião.

Para ele, este momento era não só o mais divertido como também sagrado. Não piscava nem dizia nada. Apenas ouvia o ruído tardio dos motores e acompanhava com os olhos o voo distante cruzando a imensidão azul. Enquanto mirava com curiosidade as alturas, tentava buscar respostas para perguntas que ele ainda nem sabia formular: como compreender a estranha força que faz o pássaro metálico levitar? Como se pilota aquela máquina que é mais pesada do que o próprio ar? O que encontraria se seguisse o vácuo deixado quando um avião passa?

Uma vez, quando observava uma nave que sobrevoava coruscante a muitos mil pés de sua compreensão, o menino acabou adormecendo, ali mesmo no quintal, estirado sobre a grama úmida entre caracóis e folhas secas. E começou a sonhar.

Sonhou que, de algum modo, ele ascendia até o céu. Quando um jato ultrapassou zunindo ao seu lado, decidiu seguir o rastro branco de nuvem gerado pelas turbinas. Nesta jornada impossível, imaginou encontrar a fábrica dos aviões que há muito despertavam seu fascínio e, desta forma, desvendar todos os mistérios da aviação.

Mas no fim não encontrou nem hangares, aeroportos, pistas de pouso ou campos de planadores. No lugar da tão esperada fábrica de aviões acabou encontrando algo inusitado: o lugar onde se fabricam os sonhos.

Quando acordou e abriu os olhos, percebeu que o quintal e o gramado ainda permaneciam os mesmos. Mas ele, como num passe de mágica, já não era mais um menino. De tanto se encantar com os aviões da infância, aquele antigo garoto havia se tornado um piloto de verdade, que cruzava os céus em grandes linhas intercontinentais.

Ao homem de agora era permitido alçar voos sobre a órbita de cidades e países inteiros, desde que mantivesse firmes e bem acordados os pés no chão.

E assim compreendeu que havia se transformado em piloto não para realizar a possibilidade de poder voar, mas para resgatar do tempo aquela simples capacidade de novamente poder sonhar.